Um dia, o seu tio Jaime Litorânio fez uma viagem pelo mar e, quando regressou, disse:
- O mar abriu-me a porta para o futuro!
O tio Litorânio achava grave não conhecerem o mar, pois o mar faz conhecer o horizonte, ter esperança e faz sentir que a espera vale a pena.
Em certo momento, Maria Poeirinha adoeceu gravemente.
O tio Litorânio dizia que a falta de mar tinha provocado a palermice do Zeca Zonzo, a doença de Poeirinha, a fome e a solidão. Ele afirmava:
- Temos de levar a menina para ver o mar!
Mas, infelizmente, a menina estava tão fraca e tão pálida que até não conseguia andar, de tão doente que estava. As pessoas já estavam a preparar as despedidas…. Porém, apareceu o irmão, Zeca Zonzo, que trazia um papel e uma caneta. Toda a gente pensava que ele ia desenhar o oceano, mas não. Ele desenhou, com letra grossa, a palavra “Mar”.
Fez a irmã passar, por cima de cada letra, os seus dedos e disse-lhe:
- Está sentindo, maninha? Que letra é esta?
- É um “m”! – respondeu a Maria Poeirinha.
O seu irmão confirmou:
- Sim, é um “m”, que parece as ondas do mar.
- Nós já vimos essas ondas, sim. Já as vimos no rio! – disse a sua irmã, toda emocionada.
Depois, o irmão perguntou:
- E, agora, que letrinha é esta, aqui a seguir ao “m”?
- É um “a”!
- Muito bem! É um “a” de ave, de uma gaivota que voa por cima do mar! – exclamou o Zeca Zonzo, que de “zonzo” não tinha nada.
Ele perguntou novamente:
- E esta, qual é?
- É um “r”! – diz a Maria Poeirinha.
O seu irmão disse:
- É um “r” da rocha que está no mar azul.
Entretanto, a Maria Poeirinha faleceu…
Agora, quando o seu irmão olha para a sua fotografia, diz:
- A minha irmãzinha morreu afogada na ternura de uma palavrinha, no beijo da palavra “Mar”.
Inês Leite – 4.º E – E.B. Devesinha
(Reconto da história: «O Beijo da Palavrinha», da autoria de Mia Couto)
Sem comentários:
Enviar um comentário